Assim que passava o Natal, Carol contava os dias. Era uma data mágica para ela. Ela sabia que naquelas semanas de janeiro, qualquer hora da noite era o momento.
No grande dia, ela sabia. Sua vó assava os bolos, o cheiro do bolo de puba e dos biscoitos de goma inundam a casa. Suas tias preparam a sala, tiravam móveis do lugar, arrastavam cadeiras, arrumavam o altar dos santos. Enquanto isso, seu avô fazia o licor, temperava a cachaça e falava com Carol:
Atenta a tudo, Carol saiu saltitando para o forno de lenha do quintal. Comia as primeiras fornadas de biscoitos que sua avó acabara de assar, brincava com o pulguento, seu cachorro de estimação, e indagava.
Sua avó ria e dizia que a carne estava no fogo.
Quando caia a noite na fazenda em que morava com seus avós e suas tias, tudo já estava pronto. Carol tomava banho, colocava o melhor vestido e contava as horas.
A noite avança e nada.
-Carol, vai dormir que já está tarde!
-Mas vovó, eu não estou com sono. Quero esperar acordar.
– Vamos todos dormir, quando eles chegarem a gente acorda.
E assim Carol ia para a cama, contra a sua vontade. Ia para a cama, mas a ansiedade pelo momento não a deixava dormir, rolava para um lado, rolava para o outro e nada. Sonhava acordada.
De repente, ao longe, os sons anunciavam a chegada. O doce som das flautas inundavam os ouvidos de Carol. As caixas, o bumbo e pandeiros prenunciavam a chegada do Terno de Reis e a garantia dos melhores momentos da vida de Carol.
Antes do Terno de Reis chegar em sua casa, eles ainda teriam que passar na casa dos dois vizinhos. Enquanto isso, Carol prepara tudo, colocava comidas na mesa, pegava os copos, acordava suas tias e todos ficavam à espera.
O som ia se aproximando até que chegavam à porta. “Vou chegando nessa casa… vou chegando nessa casa… quem haverá de chegar”. Carol mal conseguia controlar a ansiedade até terminar toda música. Quando a porta abria e a casa se inundava de um colorido brilhante, de uma alegria maravilhosa e Carol ria, ria enquanto trazia todos à sua volta para dentro da roda.
Carol mal imaginava que aquela seria a última Folia de Reis que ela acompanharia. Ainda naquele verão sua mãe veio buscá-la. Em São Paulo, Carol até sabia que existia lugares que tinham folia de reisados, mas ela não sabia onde. Toda a alegria daquelas comemorações ficou na sua memória e Carol ainda ria quando as lembranças vinham à sua cabeça.
Escrito por Leila Costa